Justiça Eleitoral baiana se vale da arte como instrumento de combate ao assédio
Servidor do cartório eleitoral cria cordel para tratar o tema do assédio em ambiente de trabalho
O assédio não diz respeito somente à importunação sexual (explícitas ou veladas). A prática também se desdobra em assédio moral em espaços públicos, cometido contra mulheres e homens. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) define o assédio moral como toda conduta abusiva, gestos, palavras ou atitudes que se repetem de forma sistemática, atingindo a dignidade ou integridade de um(a) trabalhador(a).
A estética e o linguajar da arte, em suas mais diversas modalidades, sempre atraíram os olhares das plateias humanas, e, uma vez conquistada a atenção do público, a expressão artística tem a possibilidade de estabelecer comunicação, repasse de conteúdos e reflexão, transformando, recriando, inquietando.
Ferramentas de linguagem e questionamento
A arte tem sido um canal de exteriorização de vivências de assédio desde tempos remotos. Muitas obras já retrataram no passado episódios do gênero, valendo-se de figuras religiosas, mitológicas e simbólicas. No século XVII, a artista italiana Artemísia, em sua pintura mais famosa Judite decaptando Holofontes, mostra o momento em que a protagonista da cena, com a ajuda de uma serva, corta a cabeça de um general que a assediava com constância, para citar um exemplo.
Na atualidade, vídeos, grafismos, poemas, exposições fotográficas, peças de teatro, entre outras manifestações artísticas, transformam-se em veículos para abordagem do tema. No âmbito da Justiça Eleitoral baiana, o assunto também pode ser debatido pelo viés da arte. Criado pelo servidor da 48ª Zona Eleitoral (Juazeiro/BA), João Evódio Cesário, o cordel “No TRE, o Assédio Não Tem Lugar Para Ficar”, tem contribuído para maior conscientização das equipes.
Tipicamente brasileiro
As histórias de cordel fazem parte da cultura popular de nosso país. Gênero literário reconhecido como patrimônio imaterial brasileiro, com raízes no nordeste. São escritos com rimas sobre o cotidiano, em linguagem coloquial marcada por regionalismos, recitados de forma cadenciada. “Por saber que eu escrevo cordéis, poemas e canções, a colega Ângela Queiroz, que faz parte da Comissão de Prevenção e Enfrentamento ao Assédio no ambiente de trabalho do TRE, me fez a proposta de escrever um cordel sobre assédio moral e aceitei o desafio”, rememora Evódio.
Para desenvolver o cordel, o autor tomou por base a “Cartilha de Combate ao Assédio Moral”, disponibilizada pelas comissões ao público interno, no início do ano. “Quando adoto essa perspectiva, comparo o trabalho de construção do texto à montagem de um quebra-cabeças”, explica. E apesar da produção literária não trazer elementos novos sobre a matéria, o servidor ressalva que a abordagem em um formato diferenciado, retoma a discussão da temática e reforça a importância do combate ao assédio.
Segundo Cesário, o cordel “No TRE, O Assédio Não Tem Lugar Para Ficar”, de sua autoria, propõe mensagens de conscientização e de erradicação do assédio no trabalho, e cumpre a função de manter o debate vivo. Lembrando, ainda, que, o cordel tratou de maneira específica do assédio moral em seus versos, porém, “as ações de proteção também incluem o combate à discriminação e ao assédio sexual no ambiente de trabalho, que tem as mulheres como principais vítimas”.
Sobre o autor
João Evódio Silva Cesário nasceu no município de Jacobina, interior do estado, e é analista judiciário no TRE-BA desde 2004. Sua identificação com a vida no campo só não é maior que sua paixão pela literatura e pela escrita. A preferência pelo cordel como forma de expressão artística (@cordelprarede) resultou na publicação de cinco livros (e-books) pela Amazon, com destaque para “A Vida de Jesus: o Evangelho Segundo o Cordel” e “A Metamorfose: adaptação da Obra de Franz Kafka”.
DS
Pra todos verem: imagem de uma mulher negra ao fundo com a palma da mão estendida. Em destaque, o texto: “Cordel Combate ao Assédio Moral por João Evódio Silva Cesário”.