Anticapacitismo é ferramenta na luta por uma sociedade mais diversa

Em debate permanente sobre a inclusão, a servidora Josely de Moura Bastos, da Seção de Atenção à Saúde, reflete sobre o anticapacitismo na luta pelos direitos das pessoas com deficiência

Serie inclusão acessibilidade

A palavra “capacitismo” não é nova, mas ainda há quem não a associe à exclusão. Seu significado, porém, é um velho conhecido das pessoas com deficiência – seja física, visual, intelectual, mental, auditiva – e com mobilidade reduzida: o preconceito. Uma sociedade capacitista entende as deficiências como exceções à dita “normalidade”. Pelo viés capacitista, são PCDs quem devem se adaptar ao “mundo normal” e não esse mundo buscar acolher as diferenças.

O Tribunal Regional Eleitoral da Bahia amplia o debate sobre inclusão a partir das reflexões da servidora Josely Bastos, lotada na Seção de Atenção à Saúde, da Secretaria de Gestão de Pessoas (SGP). A paralisia infantil que teve aos três anos de idade a ensinou a perceber que suas questões individuais são também coletivas e que, ao convocar as pessoas a pensarem sobre o tema, novas práticas podem ser implementadas.

Para Josely, o anticapacitismo reflete um amadurecimento nas discussões sobre inclusão e acessibilidade. “Algumas palavras são muito importantes. Uma vez, presenciei uma situação em que alguém tinha estacionado o carro em uma vaga para pessoas com deficiência. Um rapaz que não tinha deficiência foi quem definiu: quem fazia aquilo era deficiente cívico”, lembra.

A servidora do TRE-BA entende o anticapacitismo a partir do princípio da igualdade, segundo o qual pessoas colocadas em situações diferentes devem ser tratadas de forma desigual. “Com isso, estamos questionando padrões e a invisibilidade que é imposta à deficiência ou a qualquer outra condição que não seja a 'normal'”, diz Josely, que também percebe discriminação por sua orientação sexual. Em se tratando de inclusão, ela defende que pensar o anticapacitismo é como pensar os feminismos em questões de gênero e o antirracismo em questões raciais.

Último andar

Josely Bastos passou a infância sem ter consciência de sua condição. Ao falar de quando era criança, tem flashes de pessoas colocando-a em cima da mesa, o pai carregando, levando para fazer fisioterapia. Na escola, sofreu bullying que, naquele tempo, ainda não tinha esse nome. “A gente dizia assim: eles estão ‘mangando’ de você. Mas era a mesma coisa, colocar apelidos, rir de mim”.

Quando ganhava apelidos, Josely chorava e depois esquecia. A mãe ensinou uma frase que demorou a fazer sentido: “Onde você achou, você deixou”. E a menina repetia, intuindo serem palavras poderosas, que nem ela nem as outras crianças alcançavam. “Eu sempre dizia isso, onde eu achei, eu deixei, onde eu achei, eu deixei e aquilo fazia com que eu me sentisse melhor”.

Apesar disso, Josely foi uma criança alegre, uma menina que ela afirma ter trazido até a vida adulta. “Tenho uma criança viva que vai comigo para onde eu for”. A adolescência foi mais difícil, quando percebeu a rejeição por não caber no que a sociedade definiu como  padrão de beleza. Uma lembrança dessa época é a de estar sentada em um lugar e trocar olhares com um rapaz e, ao se levantar, perceber a decepção no rosto dele.

Em um dos primeiros trabalhos, antes do TRE-BA, em uma empresa privada, ouviu da responsável pela seleção de pessoal: “Aqui, nós não temos nada contra o seu problema”. Josely também não percebeu de imediato que a profissional falava da sua condição física, o que ela própria não via como um problema. “Talvez, ela quisesse me acolher, mas acabou mostrando uma crença social”.

O exemplo ilustra bem o capacitismo: quando os outros definem pelas pessoas com deficiência o que são as suas limitações. Josely nunca se permitiu esse lugar. “Eu sempre tive esse desejo de fazer as coisas e minha deficiência não me impedia. Eu poderia não fazer igual, mas fazia do meu jeito. Na escola, as outras crianças tinham medo de subir no último andar do trepa-trepa e era onde, sempre, eu queria estar; era um desafio para mim”.

Ainda na infância, por diversas vezes, a servidora se sentiu esquisita diante do olhar das pessoas. “Mas aquilo não me paralisava e não me paralisa ainda hoje”. Para ela, falta uma percepção anticapacitista às pessoas porque ainda há um sentimento individualista nas relações. Em sua avaliação, há quem confunda direito com privilégio e quem não consegue enxergar que a melhoria de vida das pessoas com deficiência se reflete na melhoria de vida de uma coletividade.

Sensibilidade

Para que o anticapacitismo seja uma realidade dentro da Justiça Eleitoral baiana e em todos os outros setores da sociedade, Josely Bastos acredita na educação e na mobilização social. É isso, em sua opinião, que será responsável por transformações mais profundas e não aquelas que ficam limitadas à legislação. “Algumas coisas ainda são feitas apenas para obedecer a lei e não porque são pensadas e sentidas pelas pessoas. Precisamos de sensibilidade humana para a letra fria da lei”.

Para a servidora, que já vivenciou situações de exclusão das mais sutis às mais agressivas e nos mais diversos ambientes – trabalho, família, espaços públicos e privados – a sua luta pessoal acaba sendo uma luta de todos. Certa vez, foi ameaçada por defender a vaga de um idoso em um estacionamento de shopping. “Hoje eu sei que não devemos nos deixar levar pela raiva, mas entendo que isso é legítimo de sentir diante de tantos desrespeitos”.

O cenário atual ainda tem vários desafios, pondera, mas acredita que ver debates sendo realizados, órgãos públicos promovendo conversas entre pessoas, a sociedade se mobilizando e cobrando direitos, representam avanços. Em relação à acessibilidade, por exemplo, diz que no ambiente de trabalho é importante que se tenha um olhar ainda mais atento à fiscalização da vida cotidiana, do uso dos sanitários, dos estacionamentos, da arquitetura das salas, na implementação de uma política institucional que promova cada vez mais autonomia às pessoas com deficiência.

Para aqueles que estão começando agora esse debate, sejam PCDs ou não, Josely Bastos sugere um olhar mais sensível ao tema. “Há uma imagem que eu uso muito no meu discurso, no sentido de despertar as pessoas para a realidade PCD, que é: nós dormimos pessoas com deficiência e acordamos pessoas com deficiência. Não é privilégio ter vaga no estacionamento nem fila no supermercado, é direito”. Recém-chegada à SEDAS, já sugeriu atenção especial, não apenas às pessoas com deficiência, mas a quem convive com elas. “Precisamos valorizar essas pessoas, que, assim como as PCDs, contribuem para uma sociedade melhor”.

CB

Pra cego ver: Foto da servidora Josely de Moura Bastos, da Seção de Atenção à Saúde

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